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  • Foto do escritorRedação GRAPE ESG

Leia entrevista com Ricardo Assumpção, CEO da Grape Global ESG

Atualizado: 11 de jan. de 2021


Diretor explica como vai funcionar a plataforma recém-lançada e comenta os impactos positivos do ESG nas empresas e desafios para sua implantação

Por Rhayana Araújo

Para inaugurar o site da Grape Global ESG, entrevistamos o CEO da plataforma, Ricardo Assumpção. Além de falar sobre a iniciativa, ele explica também como o ESG (traduzido do inglês significa Governança Ambiental, Social e Corporativa) impacta positivamente nas empresas, quais os resultados esperados a médio e longo prazo para elas e quais os principais desafios para a implantação.

“O ESG está ligado diretamente com a sobrevivência das empresas”, afirma. Hoje, as empresas que não olharem seus índices não financeiros, o ESG, estão fadadas a não sobreviver no médio prazo”, ressalta o diretor.

Ricardo Assumpção comenta ainda sobre os impactos causados pela pandemia de covid-19 e sua relação com a emergência da implantação do ESG. E abordou a economia circular e como ela pode ser aplicada nos processos de reaproveitamento da água e também sobre o cenário brasileiro frente aos demais países.

Confira a entrevista completa abaixo.

Portal Grape ESG - O que a plataforma Grape Global ESG vai apresentar?

Ricardo Assumpção - Vai ser uma espécie de base de melhores práticas de sustentabilidade do ESG, voltada para o mercado nacional, mas trazendo conteúdo brasileiro, mas também do exterior. Nossa ideia é que a gente consiga ter algumas propriedades, tais como o Café da Margem. Também vai ter uma parte de entrevistas e uma parte de cursos e capacitação e será um ambiente aonde empresas, ciência, academia, governo possam estar juntos discutindo de que forma o ESG pode ajudar a sociedade como um todo.

Portal Grape ESG - Qual a importância de aplicar a ESG nas empresas?

Ricardo Assumpção - O ESG está ligado diretamente com a sobrevivência das empresas. Se no momento passado tínhamos as empresas orientadas a darem lucros para seus acionistas, hoje isso já não é mais suficiente. A empresa precisa cuidar de todos os seus pontos de contato, dos seus clientes, dos seus fornecedores, do ecossistema de onde ela atua, dos seus acionistas e governos, porque isso é que vai fazê-la não só gerar valor, mas impedir que ela destrua valor. Hoje, as empresas que não olharem seus índices não financeiros, o ESG, estão fadadas a não sobreviver no médio prazo.

Portal Grape ESG - Quais resultados esperados das empresas que conseguem integrar a sustentabilidade como estratégia catalizadora de inovação?

Ricardo Assumpção - Muitas empresas hoje ainda enxergam a sustentabilidade e o ESG como algo acessório, algo que fazem por obrigação, porque a sociedade espera dela, mas elas não enxergam que isso vai gerar algum tipo de valor ou benefício para a empresa. As empresas que conseguem identificar que trazer sustentabilidade para dentro de sua estratégia é algo positivo, elas acabam naturalmente exigindo que seus fornecedores sejam mais sustentáveis e assim busquem novos processos, usem materiais mais puros e isso cria inovação. No começo, claro, isso custa mais caro. Mas, no médio prazo, ela vai se diferenciar dos seus concorrentes e, provavelmente, ter processos mais inovadores, mais adequados e que no médio prazo vão ser mais baratos do que os processos tradicionais. E isso tudo vai criar valor, não só de marca, mas também o valor financeiro. Então, essa equação é muito redonda: empresas que conseguem integrar sustentabilidade às suas estratégias promovem a inovação e conseguem gerar mais valor no médio e no longo prazo.

Portal Grape ESG - Por que as empresas que valorizam as práticas ESG podem ter melhores resultados do que aquelas que não ligam para o tema?

Ricardo Assumpção - Empresas que valorizam o ESG normalmente cuidam melhor de toda a sua cadeia de valor e têm maior reputação e um menor risco. Tendo um menor risco, ela tem maior chance de prosperar, não só no ecossistema onde ela atua, mas conseguir melhores condições de financiamento no mercado e serem mais respeitadas pelos seus consumidores. Dessa forma, conseguimos imaginar, de forma empírica, que uma empresa que pratica o ESG tem o melhor resultado. E isso dá para provar. Tem um estudo feito pela Universidade de Harvard, dos Estados Unidos, junto com profissionais da London Business School que em 1984 analisaram 180 empresas americanas que financeiramente estavam nas mesmas condições, porém, metade delas eram empresas que valorizavam o ESG, ou práticas responsáveis ambientais e sociais e tinham isso no seu DNA. Em 2010, 1 dólar que você tivesse investido em uma empresa que valorizava a sustentabilidade teria se transformado em 22 dólares. Enquanto isso, se você tivesse investido o mesmo 1 dólar nas outras empresas que não valorizavam a sustentabilidade, esse valor teria se transformado em 15 dólares. Ou seja, a gente consegue provar que empresas que valorizam o ESG performam melhor no médio e longo prazo do que empresas que não valorizam.

Portal Grape ESG - Como as empresas podem incorporar o ESG? E quais são os principais desafios?

Ricardo Assumpção - ESG nada mais é do que a forma que a gente mede a sustentabilidade de uma empresa. A gente consegue saber como ela está se comportando nos seus critérios sociais, ambientais e de governança. Então, quando a gente fala de como as empresas conseguem incorporar, não é algo tão simples, é um processo que tem alguns estágios e o importante é começar. Mas, para as empresas fazerem isso precisam estar bem assessoradas, precisam ter um plano muito claro de curto, médio e longo prazo, porque os resultados não virão de cara e isso pode frustrar as expectativas internas, por isso é importante saber dosas essas expectativas. E por que é um processo sem volta? Por conta das pressões que as empresas hoje sofrem, os desafios. E existem cinco principais desafios:

O primeiro são os Millennials, que vão ocupar as posições de executivos a partir de 2025, eles vão ser responsáveis por alocar 80 trilhões de dólares em recursos nas próximas duas décadas. Os Millennials têm os propósitos pessoal e profissional muito alinhados e trazem esse DNA do alinhamento com o planeta.

O segundo desafio é a mudança climática. E o impacto das empresas contribui para as mudanças climáticas e existe uma pressão muito grande de todas as partes interessadas para que as empresas tenham políticas claras em relação ao seu impacto ambiental.

O terceiro, normas sociais. Podemos ver o que está acontecendo no mercado como um todo, nos Estados Unidos com George Floyd, aqui no Brasil com o Carrefour, e observamos que não cuidar da parte social, das políticas sociais do relacionamento com o capital humano, prejudica e destrói o valor.

O quarto desafio é a comunidade financeira. As empresas que não estiverem em conformidade com as suas metas e seus índices não financeiros terão mais dificuldades em acessar o mercado de capital.

Por fim, o governo e as instituições, que vão obrigar as empresas com suas regulamentações a seguirem regras e quem não estiver preparado terá problemas.

Portal Grape ESG - Aplicar esse perfil na empresa pode ser o diferencial em tempos de crise mundial, como a pandemia de covid-19?

Ricardo Assumpção - Sem dúvida, a pandemia de covid-19 colocou um holofote muito importante na sustentabilidade e em como a gente é frágil, como todos nós somos frágeis, incluindo o planeta. Acabou sendo um grande acelerador para que as empresas começassem a melhorar suas práticas. Outra coisa importante que eu destaco é que a pandemia abriu um pouquinho o aspecto das empresas com relação à preocupação com a sociedade. As empresas pararam de anunciar produto e começaram a anunciar o que elas estavam fazendo pelo país e pelas pessoas. E isso é muito importante, porque traz uma preocupação genuína de ajudar, de contribuir e, principalmente, mostrar que elas estão preocupadas além do grupo. O grande aspecto da pandemia foi esse. E este lado eu acredito que vai continuar. As empresas tendem a manter uma postura mais responsável, porque elas perceberam que isso, além de fazer bem pra sociedade, também constrói valor.

Portal Grape ESG - Em sua opinião, a pandemia de covid-19 potencializou a importância do ESG?

Ricardo Assumpção - Com certeza, a pandemia acelerou muito o ESG, pois as empresas viram a necessidade de se ter a responsabilidade de causar impacto positivo, seja social ou ambiental, e começaram a observar a cobrança da sociedade como um todo em cima desse assunto.

Portal Grape ESG - De que forma é possível relacionar à economia circular e a água, de forma prática?

Ricardo Assumpção - A economia circular é o olhar mais pra frente que a gente pode ter da sustentabilidade. É quando a gente sai do tradicional – tira da natureza, usa e descarta – a chamada economia linear, e vai para o ciclo ‘tira da natureza, manufatura, usa, recicla e não precisamos tirar mais da natureza’. A água como a gente sabe é um recurso finito e todas as iniciativas que possam fazer com que a gente reuse ou regenere a água são importantes. Então, quando falamos sobre captar água de chuva para usar na irrigação de hortas – isso é economia circular! Quando a gente fala, por exemplo, no nosso caso, de reaproveitar água de ar-condicionado para irrigar um muro verde, também é economia circular. Um outro exemplo é que todos os nossos copos do Café da Margem têm sementes encartadas e podem ser plantados na horta que fica ao lado do café e eles vão crescer as hortaliças que vão ser usadas na operação. Ao mesmo tempo em que a gente repõe o que retira, a gente consegue fazer uma equação boa para o planeta.

Portal Grape ESG - Como surgiu sua relação com o tema?

Ricardo Assumpção - É interessante minha relação com o tema. Faz muitos anos que eu faço mais por sorte do que por consciência, pois todos os meus projetos tinham algum tipo de impacto social e ambiental e eu não sabia o motivo. Eu trabalhei sempre com comunicação e esses projetos mais ligados aos impactos social e ambiental eram os que mais me traziam alegria, então eu comecei a estudar um pouco mais o tema e fiz uma formação em Liderança Sustentável na London Business School. A partir desse momento, me acendeu uma luz enorme e eu comecei a fazer mais por juízo do que por sorte. Podemos dizer que, além do propósito que nós temos em relação a isso, a gente tem a técnica e os conceitos que potencializam muito o resultado.

Portal Grape ESG: Como está o cenário brasileiro comparado a outros países?

Ricardo Assumpção - Hoje, a imagem do Brasil não é boa. Nosso Governo Federal, infelizmente, ignora alguns fatos da Ciência, principalmente no que diz respeito aos impactos ambientais. Eu considero que as empresas brasileiras acabam tendo uma dificuldade adicional, que é a imagem do Brasil. É claro que existem uma série de forças e jogos políticos por trás, mas o que eu vejo é que enquanto as nossas políticas aqui no Brasil – tanto de impacto social, quanto ambientais – não tiverem muito claras e alinhadas aos propósitos e ao que a sociedade espera, a gente sempre vai ter essa dificuldade adicional quando falarmos que somos do Brasil. Eu li hoje, dia 8 de dezembro, que o governo quer desobrigar, por exemplo, os conselhos de Administração e empresa de capital aberto, o que seria uma perda de governança tremenda. Eu acho que a gente tem uma tarefa enorme que é tentar reorganizar a casa, para depois a gente colocar a cabeça para fora do país.

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